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Entrevista da semana: Ativista político Carlos Caldeira, um “calo” para os administradores públicos incompetentes e corruptos

Gestão Mauro Nazif é pior que a do Sobrinho e também é corrupta, diz ativista político(ENTREVISTA CONCEDIDA A CARLOS ARAÚJO).More Sharing Services
Carlos Caldeira faz das redes sociais um canal para denunciar os políticos corruptos e suas mazelas
As redes sociais podem ser uma excelente ferramenta para disseminar a insatisfação política e contribuir para o sucesso ou derrocada de um político ou de uma administração. Uma prova da força e do potencial dessa ferramenta foi demonstrada na organização das ondas de protestos que ganharam as ruas brasileiras no meio deste ano de 2013, mas também foi verificada a sua utilização para organização de protestos até mesmo em países onde elas são proibidas, como no Irã, na Síria e no Egito, para o sucesso do movimento identificado erroneamente por jornalistas e analistas ocidentais como a “Primavera Árabe”.

Com maior ou menor intensidade, as redes sociais, sobretudo, o Facebook e o twitter, vêm servindo aos mais variados propósitos, sejam nas grandes aglomerações urbanas ou em comunidades menores.

Em Rondônia, não poderia ser diferente e a tendência vem se confirmando. Para desespero de políticos corruptos e daqueles que ainda tentam trapacear a informação em seu modelo mais tradicional. Mas o surgimento das redes sociais também deu vida a um novo tipo de comportamento: o ‘ativista de sofá’, como define o ativista político Carlos Caldeira, que vem se revelando um ‘calo’ para os administradores públicos incompetentes. O ‘ativista de sofá’, na definição de Caldeira são os acomodados que só se manifestam pelas redes com um curtir, sem partir para uma ação mais efetiva na luta pelos direitos da sociedade.

Nesta entrevista ao repórter Carlos Araújo, esse paraense que chegou a Rondônia no início da década de 1990 revela que, ao contrário do que afirma setores da mídia adestrada, a administração municipal capitaneada pelo médico Mauro Nazif chega ao final de seu primeiro ano não só com a marca da incompetência administrativa e inapetência para solucionar problemas comezinhos, mas também com alguns casos de corrupção envolvendo desvio de recursos públicos.

É com base em um desses supostos casos de corrupção, que não envolve grande soma em dinheiro, mas que macula aura de honestidade com que o atual prefeito sempre se apresentou, que o ativista Carlos Caldeira pede o impeachment do prefeito pela Câmara de Vereadores. Ele também denunciou o caso ao Ministério Público.

Caldeira garante que a gestão Mauro Nazif está sendo pior que a do ex-prefeito Roberto Sobrinho e também é manchada por escândalos e falcatruas. Conversamos com o crítico e ativista político, para a Entrevista da Semana do www.tudorondonia.com.br.

Contador por formação, Caldeira tem se destacado no meio político e social pela atuação e inovação na maneira como vem trabalhando na fiscalização do poder público e na utilização dos meios de comunicação. È ele o principal responsável pelas matérias e postagens polêmicas nas redes sociais fazendo críticas a gestão do prefeito de Porto Velho e a atuação do Poder Legislativo estadual e municipal. Ele também é o autor da proposta de impeachment de Mauro Nazif, algo inédito na história recente da política brasileira.

Carlos Caldeira nasceu em Mosqueiro, município localizado próximo a Belém, capital paraense. Casado, ele tem duas filhas e um filho nascido no Pará. Contador e empreendedor, atualmente Caldeira trabalha na execução de projetos sociais na cooperativa Cootraron, com atuação em todo o Estado.

Carlos Caldeira chegou a Rondônia no início da década de 1990, às vésperas do assassinato do senador Olavo Pires, e, em poucos dias, iniciou sua trajetória de luta contra os maus gestores do erário público. Para falar de sua retidão de caráter e idoneidade, Carlos Caldeira lembra que quando chegou a Porto Velho foi convidado para trabalhar no governo, mas não aceitou por entender que seria sugar os cofres públicos. “Nunca fui funcionário público, quando cheguei a Rondônia recebi oferta de trabalho, que na verdade era para ficar encostado no Governo Jerônimo Santana, mas não aceitei”.

Polêmico, ele faz críticas severas aos atuais gestores e alega ter provas que justificam o impeachment do prefeito da capital. Segundo ele, são escândalos que envolvem nepotismo e apropriação de verba pública com o pagamento pela construção de obras fantasmas. As denúncias, além de publicadas em seu blog e no Facebook, são feitas ao Ministério Público e à Câmara de Vereadores. Segundo ele, o ideal é caçar o mandato do prefeito e realizar uma nova eleição com a participação de outros candidatos.

Embora tenha recebido o título de blogueiro, o ativista mostra que não está para brincadeira. Na gestão Roberto Sobrinho ele oficializou pelo menos 130 denuncias contra a prefeitura de Porto Velho. “Se o Sobrinho foi preso, posso dizer que parte do mérito é meu, que nunca calei ante os desmandos de maus políticos e de grupos organizados”.

Confira a seguir a entrevista:

Tudorondônia: Quem é Carlos Caldeira?

Carlos Caldeira: Sou contador, natural do Pará. Cheguei a Rondônia no início da década de 90 e sempre fui um cidadão politizado. Gosto de exercer meus direitos e cobro muito de quem se propõe a trabalhar pelo bem comum da sociedade. Sou muito crítico e não poupo esforços para combater a corrupção nos poderes constituídos.

Tudorondônia: O que o levou a trabalhar na área social?

Carlos Caldeira: Eu tenho duas filhas, uma nasceu aqui e outra em Marabá, no sul do Pará, então eu acompanho muito as pessoas que sofrem as mazelas e não quero isso para as minhas filhas. E o que eu não quero para elas não quero para os outros, então, olhando “tudo isso” que acontece no cenário político me revolta. Acho que Rondônia é um dos Estados mais corrupto desse país.

Tudorondônia: Você chegou a Rondônia em 1990 e não voltou mais ao Pará?

Carlos Caldeira: Voltei sim, há dez anos fui de volta ao sul do Pará e fiquei três anos lá. Montei três restaurantes, trabalhava sete dias por semana, cozinhava, até que senti muita saudade de Rondônia e então resolvi voltar.

Tudorondônia: O que te fez voltar a Rondônia, do que sentia saudade?

Carlos Caldeira: Aqui tem oportunidades. Voltei a Porto Velho dois anos antes do início da construção das Usinas do Madeira, queria participar dessa obra.

Tudorondônia: Qual sua idade?

Carlos Caldeira: Completo 52 anos em 19 de janeiro.

Tudorondônia: Você tem se notabilizado pelas criticas que tem feito ao meio político, principalmente ao prefeito da capital. você tem aspirações políticas ou apenas extravasa alguma frustração pessoal?

Carlos Caldeira: Sou um cidadão preocupado. No Pará eu já fazia oposição ferrenha ao governo Jader Barbalho. Quando cheguei pela primeira vez aqui (Porto Velho) fiz criticas ao governo Piana e no Marabá/PA eu fiz críticas ao prefeito de lá, Tião Miranda. Quando retornei a Rondônia, ajudei a reeleger Roberto Sobrinho, votei nele, pedi voto e me filiei ao PT. Só que vi acontecer tanta coisa ruim que comecei a me rebelar, pedi pra ser expulso do PT, mas o partido não expulsa ninguém. Fiz inúmeras denúncias da administração Sobrinho, num total de 133, de modo que também sou um dos responsáveis por ele ter sido preso.

Tudorondônia: Mas você chegou a apoiar o Dr. Mauro no segundo turno da última eleição para prefeito?

Carlos Caldeira: Quando fui com Dr. Mauro, eu já havia me desvinculado do PT. Saí do Partido dos Trabalhadores em outubro do ano passado, logo depois da eleição. Eu tinha compromisso com a Fátima (Cleide, ex-senadora, candidato derrotada a Prefeitura de Porto Velho), sem ganhar nada, e cumpri. Tudo que eu pedi foi que ela não abraçasse a candidatura do Roberto (Sobrinho), mas ela quebrou esse acordo e isso me fez romper com ela e com o PT.

Tudo Rondônia: Fez algum acordo para dar apoio ao então candidato Mauro Nazif?

Carlos Caldeira: Não foi exatamente um acordo. Desde o primeiro turno, dizia a ele que uma certeza eu tinha: não votaria no Garçom e faria oposição a ele (ao Garçom). Um dia, numa entrevista, eu disse que se o Mauro prometesse algo teria meu apoio. Pedi a ele uma garantia de que Gilson Nazif não faria parte de sua administração, ele riu com a aquela “cara sínica dele” e fez a promessa, mas, quando foi eleito, fez do irmão seu braço forte na atual gestão. Já perdeu pontos. Pediram para eu não fazer críticas antes dos 100 dias, eu aguardei, mas lá se vai quase um ano e a cidade está pior do que foi entregue pelo Roberto Sobrinho.

Tudorondônia: Por que disse que não votaria em Garçom em hipótese alguma?

Carlos Caldeira: Garçom foi prefeito de Candeias, que é um ovo, e não fez quase nada. Então, penso que ele não tem competência para administrar Porto Velho.

Tudorondônia: Temos um ano de administração Mauro Nazif, está arrependido de não ter votado no Garçom?

Carlos Caldeira: Não, estou é envergonhado de ter votado no Dr. Mauro.

Tudorondônia: Na eleição do ano passado tivemos dois candidatos, praticamente por exclusão, disputando segundo turno, o que o povo deve fazer para ser bem representado?

Carlos Caldeira: É difícil. Se fosse hoje as eleições entre Garçom e Dr. mauro, acho que teríamos que convocar outra eleição, porque o povo não votaria em nenhum dos dois. Penso que, numa saída do Mauro do poder poderíamos ter uma nova eleição com novos candidatos na disputa.

Tudorondônia: Você tem filiação partidária ou pretensão política?

Carlos Caldeira: Muita gente me questiona sobre isso. Eu já tive pretensão política, mas agora não. Já fui pré-candidato a deputado, mas, como vejo “coisas” que não me agradam, não quero isso pra mim, não quero servir de vidraça para ninguém. Dizem que poderiam me corromper, acho que seria mais fácil me matar do que me corromper.

Tudorondônia: Você fala de “coisas”, que “coisas” foram essas que você viu na administração Roberto Sobrinho?

Carlos Caldeira: Aquela operação da polícia que levou quase toda administração dele para cadeia mostrou isso. Um dos pontos que me fez criar certa antipatia foi a questão dos viadutos e da Rua da Beira que teve muito dinheiro desviado. O Roberto Sobrinho montou uma quadrilha, mas não tenho como provar. A polícia expôs isso. Teve a questão da EMDUR, e ele dizendo ser inocente.

Tudorondônia: Na administração do Dr. Mauro já existe problema dessa ordem?

Carlos Caldeira: Existe sim. Tenho caso comprovado de corrupção na SEMUSA.

Tudo Rondônia: Se é comprovado, pode nos explicar que caso de corrupção é esse?

Carlos Caldeira: Existe uma modalidade de corrupção que permite aos “caras” roubarem pouco, onde tem pouco dinheiro. Na SEMUSA, por exemplo, montou-se um processo para cavar um poço artesiano e construir um escritório para servir de ponto de apoio de combate a malária no distrito de União Bandeirantes. Tenho todo o processo comigo, tem laudo de técnicos que comprovam a construção, mas nada saiu do papel. Ficou apenas no papel, mas o dinheiro sumiu. A comunidade, precisando desse ponto de apoio, construiu um cubículo de madeira, com o próprio dinheiro. A água é retirada do poço de uma moradora ao lado e tudo pago com dinheiro da população. No papel, consta que a prefeitura construiu o ponto. Consta que foi investido R$ 30 mil. O processo dispensa licitação, é feito por meio de Carta Convite. Três empresas participaram do processo e a diferença de preço é de centavos. A empresa que ganhou tem endereço em uma casa localizada no Marechal Rondon. A construção fantasma conta com o aval e participação do vereador Macário Barros, que foi o secretário de Saúde do município no inicio da gestão do Mauro.

Tudorondônia: Quem denunciou o caso?

Carlos Caldeira: Quem descobriu tudo foi o vereador Dim Dim, que é de União Bandeirantes. Ele, inclusive, postou fotos no Facebook. Eu fiquei de pegar um engenheiro para fazer o laudo que comprove que não houve a construção, com dinheiro do meu próprio bolso.

Tudorondônia: A denúncia já foi levada à Câmara?

Carlos Caldeira: Sim, e esse tipo de denúncia também embasa o pedido de impeachment do prefeito e de cassação de mandato do vereador Macário Barros, por quebra de decoro parlamentar e por improbidade administrativa.

Tudorondônia: Você acha que a acusação guarda alguma relação com fato de o vereador Macário Barros ter votado a favor dos vereadores denunciados na Operação Apocalipse?

Carlos Caldeira: Não. Tenho conhecimento desta denuncia muito antes disso.

Tudorondônia: Pela legislação, o prefeito pode ser afastado até o segundo ano de gestão, você já entrou com pedido de impeachment na Câmara?

Carlos Caldeira: Sim, entrei com o pedido no começo deste mês.

Tudorondônia: O que te motiva a fazer isso?

Carlos Caldeira: Revolta. Primeiro vejo que nada foi feito para que a cidade se tornasse melhor. Se você andar por aí vai ver que cidade está como sempre esteve. Depois, porque o Dr. Mauro encheu a prefeitura de parentes.



Às vezes lutando sozinho contra todo um sistema, o ativista se diz capaz de tirar dinheiro do próprio bolso para conseguir uma prova de corrupção
Tudorondônia: Isso tudo é suficiente para o impeachment?

Carlos Caldeira: Talvez não. O processo precisa uma prova cabal, e essa prova eu já tenho. Em março desse ano, a prefeitura teve o CNPJ negativado pela Receita Federal, por uma suposta dívida de um processo administrativo R$ 1 milhão e 70 mil. A administração descobriu a dívida quando estava fazendo convênios e contratos, então autorizaram um funcionário da Semfaz a ir a RF e negociar a dívida, isso foi feito. O servidor designado negociou a dívida em 60 vezes, pegou o DARF e levou para a prefeitura pagar. Cinco meses depois a Câmara foi notificada sobre o fato e a prefeitura pediu autorização para pagar. A grande questão é que a dívida não existe, era uma suposta dívida de imposto, que tem inclusive processo pedindo o cancelamento dela.

Tudorondônia: Então como a dívida se originou?

Carlos Caldeira: Boa pergunta, mas não sei como essa dívida se originou. O documento foi anexado ao pedido de impeachment.

Tudorondônia: Como começou sua atuação nas redes sociais?

Carlos Caldeira: Na administração passada, eu criei o blog “Fora Roberto Sobrinho”. Trabalhei nesse blog até outubro do ano passado, até que me aborreci, já que ninguém mais fazia nada e parei com o blog. Aborreci-me porque fiz tantas denúncias no blog, as ajuizei no MP e vi que não acontecia nada. Então, abandonei o blog.

Tudorondônia: O MP só afastou o Roberto Sobrinho faltando 20 dias para o final do mandato. Você acha que o MP tem sido inoperante?

Carlos Caldeira: Não. Até gosto da atuação dele (do MP). As últimas operações que a gente vê aí, por exemplo, foram bem sucedidas, menos a Apocalipse, que pra mim foi um fracasso. A questão é que o MP precisa fechar bem as denúncias para não cometer erros. Na questão do Roberto Sobrinho, é que ele tinha um esquema muito bem montado, o que dificultou a ação da Justiça. Pessoas leigas, os ‘ativistas de sofá’, protestam contra a Polícia Federal e contra o MP, mas eles têm que entender que os dois agem apenas quando estão bem embasados.

Tudorondônia: Na operação Apocalipse o MP inocentou todo mundo e disse que não havia indícios para instaurar ação penal contra ninguém, mas o TJ rejeitou essa posição e devolveu a peça para que se aprofunde a investigação. Você acredita que está havendo um descompasso da atuação do MP e da atuação do Judiciário?

Carlos Caldeira: Acho que há troca de informação que deveria ser fechada junta. Eu li todo o inquérito da Apocalipse, e vi que algumas informações chegavam ao MP e outras não. Quando se falavam da PEC 37, se falava muito da atuação do MP, que gostava muito de fazer espetáculo. Eu não concordo, mas acho que há falta de troca de informação, nem sei como te classificar isso.

Tudorondônia: A própria Operação Apocalipse não teve aval nem acompanhamento de um promotor, foi tudo feito a revelia do MP, por que será?

Carlos Caldeira: Por tudo que já li essa operação foi criada para combater o tráfico, mas nenhum grama de droga foi apreendido, acho que ela (Operação Apocalipse) foi direcionada. Achei que até eu estava sendo grampeado. O governador disse que sabia que todo mundo tava sendo grampeado.

Tudorondônia: O Fernando da Gata e o Beto Baba, que são dois estelionatários conhecidíssimos da comunidade e com uma rede imensa de colaboradores em um bairro da capital. Você acha que eles também são inocentes?

Carlos Caldeira: Não, tanto que estão presos.

Tudorondônia: Por que a soltura deles não ocorreu, em sua opinião?

Carlos Caldeira: Eles sabem de tudo, soltar eles é um perigo, assim como não soltam o Valter Araújo.

Tudorondônia: Então você acha que está havendo manipulação por parte do Judiciário em operações como essa?

Carlos Caldeira: Acho que não. Nós temos a figura do secretario de segurança, do governador, do Legislativo, do Judiciário, acho que nenhum nem outro, a partir de agora, do fracasso que foi, tomará uma atitude precipitada... é complicado.

Tudorondônia: Como analisa a questão da absolvição dos cinco vereadores envolvidos na Operação Apocalipse?

Carlos Caldeira: Eu tenho uma boa relação com o Léo Moraes. Quando foi lido relatório dele eu o questionei sobre essa questão, ele me mostrou que aquela decisão foi pela dosimetria do fato de cada um, ou seja, num exemplo esdrúxulo: “Numa quadrilha de cinco vereadores, dois roubam e três matam, vamos prender os três e liberar os dois, não se podia condenar a todos”. Em grosso modo, foi o que eu entendi, porque era a quebra de decoro que se estava apurando, era a parte política e não a criminal.

Tudorondônia: Quantos vereadores quebraram o decoro parlamentar?

Carlos Caldeira: Os cinco vereadores quebraram o decoro. Agora não entendi porque só foi proposta punição para três. O Eduardo Rodrigues passou 75 dias presos junto com o Marcelo Reis e foi o único que o MP disse que não devia nada. Marcelo Reis e Jair Montes foram indiciados.

Tudorondônia: O Eduardo foi inocentado, então porque ele ficou 75 dias presos, é uma incoerência?

Carlos Caldeira: Talvez.

Tudorondônia: Em sua opinião, existe decoro parlamentar? O que vem a ser isso?

Carlos Caldeira: Basicamente, o decoro parlamentar, bem resumidamente, é aquilo que o parlamentar faz que cause vergonha a Casa que ele representa. Basicamente, a grosso modo é isso, é o “cara” usar o mandato dele para obter vantagens pessoais.

Tudorondônia: Isso se aplica na questão da ALE também?

Carlos Caldeira: Achei que o caso da Assembleia Legislativa foi mais ridículo do que o que aconteceu na Câmara. As punições dadas são vergonhosas. A Ana da 8, por exemplo, foi punida com a suspensão de seis meses do mandato, ela deveria ter sido presa. Isso não é punição, ainda mais que a comissão quer que a punição inicie em janeiro, no recesso parlamentar. A comissão diz que é muito difícil punir pessoas, isso é ridículo.

Tudorondônia: A seu ver, a sociedade está satisfeita com essas punições?

Carlos Caldeira: Acho que não. O que aconteceria se não tivermos um partido político corrupto, como PT é hoje. Se fosse o PT de antigamente, que tinham valores reais seria diferente. A militância do PT está alienada, se resume a grupos, a tendências. Tem um líder que faz a cabeça de todo mundo.

Tudorondônia: Já que são manipulados por um líder, dá para chamar isso de militância?

Carlos Caldeira: Difícil. Militância implica conhecimento do que é feito, da ação política. A questão do PT é muito singular. Quando prenderam o Sobrinho e o Mário Sérgio, o PT rachou. Ficou dividido em blocos, tanto que o fundador do PT daqui (de Porto Velho), Hernanes Segismundo, saiu do partido “atirando” para todo lado, a mesma coisa que fez o Hermínio Coelho e eu também. Éramos pessoas que quando estávamos lá defendiam o partido.

Tudorondônia: O partido continua dividido?

Carlos Caldeira: Sim, em dois grupos, o do Roberto Sobrinho e o da Fátima Cleide?

Tudorondônia: Quem é mais corrupto o PT ou PMDB?

Carlos Caldeira: O PMDB é mais corrupto. Ele (PMDB) exerce o poder da pressão, não lança candidatos à presidente porque quer estar encostado no poder.

Tudorondônia: Você fala de “ativista de sofá”, por acaso acha que as redes sociais são território livre da futilidade e deve ser usado como ferramenta para melhoria da sociedade?

Carlos Caldeira: Há um potencial muito grande nas redes sociais. Contudo, o que acontece e o que se diz depende muito do grupo de amigos onde você está inserido. Eu, por exemplo, costumo fazer uma limpeza no Facebook, excluindo contatos que considero desnecessários. Quero contatos de qualidade, que têm opiniões e que sejam politizadas. Raramente posto algo diferente, faço graça ou humor, mas sempre com teor crítico.

Tudorondônia: Você tem alguma esperança de que venha prosperar seu pedido de impeachment?

Carlos Caldeira: Sim, sou otimista, não entro em nada que ache que vá dar errado. E se esse projeto for para frente, vou pedir quinze minutos para falar no plenário para convencer os vereadores da base aliada para afastar ele (Mauro Nazif).

Tudorondônia: Como pretende fazer esse convencimento?

Carlos Caldeira: O prefeito hoje tem ao seu lado cinco vereadores da Operação Apocalipse. Na verdade ele tem 12 vereadores na mão. Sei que não posso contar com o doutor Macário Barros, com o Márcio do SITETUPERON e nem com o Edmílson Lemos. Também não conto com o cabo Anjos que é do partido que apóia o Mauro, o PDT, mas, sei que quase 100% da população Portovelhense quer a saída do Dr. Mauro e já crucificaram os vereadores da Operação Apocalipse. Esses vereadores querem reverter isso, e só o farão votando contra o Dr. Mauro, e é isso que eu quero fazer na Câmara, citar nome por nome, dizendo quem é quem e quem fez o quê. No mês de julho, com quase sete meses de administração, o Dr. Mauro tinha 21 vereadores contra ele, quando fizeram o manifesto no viaduto, colocaram faixas e tudo mais. O Jair Montes levava à frente o posicionamento, falava até em impeachment e hoje é o maior aliado, porque o prefeito ajudou a tirar ele do cadafalso do processo de cassação.

Tudorondônia: O que tem a dizer sobre as Usinas?

Carlos Caldeira: Voltei para Porto Velho pensando nesse progresso. Fui a favor da implantação das usinas, mas tem acontecido muita coisa com essas usinas. Uma que me envergonha é o fato de ainda existir queda no fornecimento de energia. Acho uma falta de respeito. Tudo isso é culpa de nossos gestores. Para piorar, recentemente teve a aprovação de isenção de imposto para as usinas, o “Lesa Rondônia”,

Tudorondônia: Isso não tinha sido superado, com uma ação na Justiça?

Carlos Caldeira: Sim, mas foi feito ajuste no pedido, foram colocadas algumas imposições e o projeto foi aprovado pelos deputados. São mais de R$ 500 milhões de reais por ano que o estado renunciou.

Tudorondônia: Você tem uma mensagem de natal à população?

Carlos Caldeira: A gente ouve muito protesto, pessoas dizendo que tudo que acontece de ruim na política é culpa do eleitor, então é culpa minha também, porque votei no Roberto Sobrinho, no Mauro Nazif e no Confúcio Moura. Não adianta a sociedade ficar gritando: “vamos anular nosso voto”, por que chega à véspera muitos negociam o voto. Então minha mensagem é: não venda nem barganhe seu voto.

Tudorondônia: Tai um ponto interessante, você, por exemplo, se diz um homem politizado, mas está decepcionado com seu voto, acha que o voto facultativo seria a saída?

Carlos Caldeira: Sim. Minha escolha é feita pelo currículo do político, confesso que esperava mais do doutor Mauro. A Fátima Cleide, no primeiro turno, eu escolhi pela ficha dela, nunca se envolveu com escândalo, nunca a vi envolvida em rolo, então achei que seria uma ótima prefeita. Ela é da cidade, acho que seria uma boa gestora.

Tudorondônia: Você fala que por a Fátima ser daqui seria boa administradora, mas o Piana, por exemplo, é filho da terra, e você acha que foi uma terrível administração, como explica?

Carlos Caldeira: A Fátima fez um bom mandato no Senado, ela mora em São Paulo, mas a família dela esta aqui. Acredito que, diferentemente do Piana, ela seria uma boa administradora.

Tudorondônia: Por falar em parlamento, você acha que a atuação parlamentar do Mauro coaduna com a do executivo Mauro Nazif?

Carlos Caldeira: Não.

Tudorondônia: Bom parlamentar, mas mau gestor no executivo, a atuação dele na Câmara Federal então não seria parâmetro para elegê-lo prefeito?

Carlos Caldeira: O doutor Mauro jogou fora sua carreira política. Os rolos que acontecem na prefeitura têm a conivência dele.

Tudorondônia: Quando deputado, o Mauro Nazif pediu o fim da aposentadoria para ex-governadores e para parlamentares e agora, enquanto prefeito, vetou a lei antinepotismo no município, o que acha disso?

Carlos Caldeira: No Parlamento ele estava jogando para a platéia. O doutor Mauro é lobo em pele de cordeiro. Hoje ele mostra o lobo que é. Prova disso foi a atuação dele para livrar os vereadores da Apocalipse, todo mundo viu. Taí o Jair Montes que, de adversário e opositor ferrenho, passou a ser o homem forte do prefeito na Câmara. Para mim, a administração do doutor Mauro, proporcionalmente, está muito pior que a do Sobrinho.

Tudorondônia: O doutor Mauro é hoje um homem rico, e só fez política nos últimos 30 anos. Como se fica rico isso só fazendo política?

Carlos Caldeira: Também queria saber. Como um político honesto fica rico? Até eu queria saber. Como médico ele não garantiria essa riqueza toda.

Tudorondônia: Obrigado pela entrevista.

Carlos Caldeira: Eu é que agradeço a oportunidade.

Um comentário

Anônimo disse...
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