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Vereadores deram emprego à família de Beira-Mar ‘sem saber’

A investigação constatou que o próprio Fernandinho Beira-Mar articulava as nomeações como forma de garantir a aposentadoria de parentes - Fernando Quevedo / Agência O Globo / 13-05-2015

RIO - Pelo menos oito familiares do traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, foram nomeados para cargos na Câmara Municipal de Duque de Caxias nos últimos cinco anos, com salários que variam de R$ 2.500 a R$ 6.800. Três permaneciam na folha da Casa até esta quinta-feira. Segundo a Polícia Federal, que desbaratou na quarta-feira um esquema de comunicação usado pelo criminoso dentro da Penitenciária Federal de Porto Velho, em Rondônia, todos eram funcionários fantasmas e não davam expediente.

Débora Cristina da Costa Teixeira e Edite Alcântara de Moraes, respectivamente irmã e sogra de Beira-Mar, trabalham como assessoras do vereador Chiquinho Caipira (PMDB). De acordo com o Diário Oficial do município, ambas foram nomeadas no dia 1º de março com salários de R$ 6.800, já considerando uma gratificação de 70% sobre os vencimentos. Além delas, Thuany Moraes da Costa, filha do traficante, foi empossada como presidente de comissão por indicação da vereadora Leide (PRB). Ela assumiu o cargo no dia 1º de janeiro, recebendo R$ 4 mil por mês.

O presidente da Câmara, Sandro Lélis (PSL), disse nesta quinta-feira que assinou a exoneração de Débora, Edite e Thuany. Segundo ele, a medida deverá ser publicada nesta sexta-feira ou nos próximos dias no Diário Oficial do município. É o nome de Lélis que aparece chancelando todas as nomeações - mas, de acordo com o vereador, isso se deve ao fato de atuar como um "ordenador de despesas".

- Todas essas nomeações são de responsabilidade dos vereadores que as indicaram. A frequência e a escolha dos funcionários é da competência de quem os nomeou - frisou o presidente da Casa, acrescentando que criará uma norma para exigir a contratação, pela Câmara de Caxias, apenas de pessoas sem antecedentes criminais.

Chiquinho Caipira, que, após ser eleito para o sexto mandato, assumiu a Secretaria municipal de Pesca, disse que desconhecia "a relação" entre suas funcionárias e Beira-Mar e negou que ambas sejam funcionárias fantasmas. De acordo com a Polícia Federal, além delas, outras três pessoas ligadas ao traficante já trabalharam para ele.

- Conheço o ex-marido da Alessandra (irmã de Beira-Mar), que foi candidato duas vezes e já me ajudou em campanhas. Eu tinha o compromisso de nomear duas pessoas indicadas por ele - justificou Chiquinho, que também disse ter feito outras contratações a pedido da mesma pessoa.

A vereadora Leide, que nomeou uma filha de Beira-Mar e a companheira de um sobrinho do traficante, também alegou desconhecer a ligação entre suas funcionárias e o criminoso.

- Tenho um trabalho no Parque das Missões (em Caxias). Um suplente que é meu amigo me indicou a Nicole (companheira do sobrinho de Beira-Mar). Ela teve de sair em janeiro, e eu precisava de uma pessoa com prática em eventos. Esse mesmo amigo me indicou a Thuany. Não confrontamos nomes aqui. Analisamos o currículo, e ela foi nomeada. Não sabia que as duas eram parentes de Beira-Mar - afirmou a vereadora, que negou ter funcionários fantasmas em seu gabinete.

Beira-Mar foi transferido nesta quinta-feira do presídio de Porto Velho, considerado de segurança máxima, onde cumpria pena desde 2014. O traficante chegou ao aeroporto da cidade escoltado por 50 agentes, e embarcou em um jatinho na companhia de seis deles. O Departamento Penitenciário Nacional (Depen) não divulgou o destino do bandido, mas fontes da Polícia Federal disseram que ele foi levado para a Penitenciária de Mossoró, no Rio Grande do Norte, uma das quatro unidades nas quais já esteve preso. Beira-Mar voltará ao Regime Disciplinar Diferenciado, sem direito a visitas.

Na quarta-feira, a Polícia Federal prendeu 24 pessoas que, segundo investigadores, tinham envolvimento com um esquema de comunicação montado por Beira-Mar dentro da cadeia. Seis são filhos do traficante. Usando um barbante, ele passava bilhetes para uma cela vizinha, onde um detento os repassava para uma companheira durante visitas íntimas. Ela, por sua vez, levava as ordens escritas pelo bandido para fora do presídio.



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